2.12.12

Tempestade

[conto]

Havia no ar uma promessa de calor tropical; e outra, de tempestade iminente.


Um semblante sombrio descia a rua íngreme do Coliseu, certeiro e eriçado, num transe só seu. Ao fundo os prédios maciços da Avenida acompanhavam o seu humor nervoso, e a ânsia feroz de quem, impaciente, sustém a respiração até ao desenlace. O rapaz profetizava solenemente, a cada três passos, a perdição: o mundo acabaria nos próximos dois minutos e toda a cidade o esquecera. Egoisticamente (sabia-se sozinho), o fardo causador de toda a agitação caminhava a seu lado, quatro palmos mais à frente, seguro do seu papel de titã. Ele por sua vez, Zeus salvador, era totalmente impotente – e assim nada faria, por nada poder. Aquele colosso ditaria o final. A sua deixa na encenação seria a profecia do dilúvio (uma réstia fraquíssima de esperança assegurava-lhe que «não; da abundância!»... logo o saberia). No céu as trevas tomavam rapidamente o lugar ao dia. Num instante a guerra estava ganha, com os últimos focos de claridade a serem engolidos pelo bojo da tempestade em crescendo.

Começara a chover.

Já chove, concluiu o colosso. De facto. A sua óbvia constatação era um facto. Quando calada, aquela altivez dominadora, aguçada no olhar, mordaz na pose, tudo o que o excitava, o torso, os ombros, as pernas musculadas, os braços e o peito largo, carne, pura carne, pronto o ataque sanguinário à fonte do desejo – tão imenso, tudo e todo; fazia-o vibrar a uma magnitude máxima, apenas abalada por aquelas frases feitas.

Parou. Ao seu lado esquerdo estava a porta de um prédio velho que ele sabia ter um pequeno recanto para cafés e copos no último piso. Entra aqui, sim?, subimos ao último piso. Que há lá? Um café, e a vista.

Seguiu à sua frente. O hall sem luz dava para uma escadaria que caracolava até ao topo. Ao lado um elevador avariado, grafitado pelo desuso. O colosso tomou a dianteira, naturalmente seguro desse papel. Subia à sua frente. Estava escuro. As escadas eram estreitas, o ar pesado de cheiro a mofo. De novo, um assalto de terror tomou-lhe a força. Sentia o pulso aos nervos pelos arrepios da pele. Que corpo... Degrau a degrau, cada músculo se contorcia mais provocador, as pernas, as coxas, os glúteos, os ombros, os braços; o seu braço direito atirou-lhes uma mão esfaimada – parada num instante por um golpe de fé, ou de lucidez.

Respirou fundo. No primeiro andar olhou pelo janelão da escada. Triste cidade, o dilúvio vai-te engolir. Se eu tiver sorte, poupo-te o massacre, pensou – mas naquele preciso instante a sua impotência era extrema. Avistava ao longe. Havia uma incidência curiosa de sombra e nuvens sobre o torreão da Câmara. A mais alta e imponente construção das redondezas, símbolo de firmeza e do poder do homem afrouxava perante a ameaça que vinha de cima. Deitou as mãos aos bolsos, e um suspiro.

Flashou o primeiro relâmpago da noite – sentiu uma mão pousar no ombro. Que se passa? estás tenso. Gelou num segundo; recuperou no seguinte, as mãos libertas: Nada, vim ver a vista.
Virou-se para o colosso, também ele olhava a cidade condenada. Sem tirar os olhos do horizonte, declarou num tom grave,
Gosto de tempestades… Gosto da tensão que paira no ar. Vês ali, junto à torre? Se uma simples pena voasse entre aquelas superfícies, edifício e céu, tudo se libertaria.
Tudo o quê?
Toda a energia. A força acumulada. Toda a tensão.

Virou-se, e continuou a subir. Absolutamente fascinado, extasiado – o rapaz seguia-lhe as pisadas, faminto, delirante por aquele colosso provocante e provocador. Apurava a sua astúcia, tornava-se felino. Degrau a degrau, fôlego a fôlego ia reunindo fogos e forças de uma idade primitiva. Observava. O gingar posicionado das ancas, o fundo das costas torneando os ombros, a espádua larga, ... – inconscientemente, molhou os lábios, recuou um passo, flectiu as pernas, e, não viesse um novo janelão clarear-lhe o espírito, seguramente se teria feito leopardo, num ataque de garras, para devorar roupa e carne à presa que perseguia, alheia a tudo.

Na segunda janela viu no céu sobre o Coliseu um bando de aves negras voarem em círculo, duas vezes, três, e logo se dirigirem para a torre da Câmara. A penumbra era quase plena sobre a cidade. Estendeu a mão à luz dos candeeiros da rua: o sangue latejava nas veias como uma fornalha sedenta. Pulsava a um ritmo incendiário mas constante, fiável.
É o momento, pensou.

No novo lance de escadas o rapaz à sua frente subiu alguns degraus; súbito parou. Voltou-se. Esperou que o rapaz-leopardo o alcançasse. Encarou-o a poucos palmos, corpo a corpo. Encostou-se à parede, atirou o peito para trás, inclinou-se para a frente, as pernas alcançaram as do parceiro. Olhou-o. O animal selvagem à sua frente mal continha a fera dentro de si. Deitou de novo as mãos aos bolsos. O colosso examinou o acto: percebeu o intento, assustou-se; engoliu em seco. Por sua vez, enfiou também as mãos nos bolsos. Desviou o olhar. A presa sentia pela primeira vez o perigo. Leve – mas sibilante – arfava. Tornava-se ele agora o visionário, mas todas as profecias lhe falhavam. Adivinhava apenas uma. Estava perto.

O felino aproximou-se. O titã tirou as mãos dos bolsos, expectante. Mas o flash de um raio veio perturbar o feitiço; caiu a pose, deu meia volta e continuou a subida. Com olhos finos seguia-lhe os passos. A presa, já sem a graça de antílope nas pernas, caminhava a passos de cordeiro. No último degrau, junto à janela do terceiro piso, parou estanque. A noite era total. Reparou no estilhaço de um dos vidros à sua frente, aproximou-se. Fora trespassado por uma bala. Examinou com suavidade o dano. Procurava abstrair-se. Tinha caído na armadilha; ele, que pensava ter tudo sob o mais firme controlo. Não vislumbrava fuga possível. Espreitou então pelo buraco do vidro: num delírio viu o torreão da Câmara faiscar ao longe. Sentiu um toque áspero no peito. Levantou-se. Fugidio o relâmpago, um ardor junto ao pescoço; escutou gelado: «É agora».

Uma dentada fria no ombro e toda a raiva celeste se abria sobre a cidade, numa torrente apocalíptica. As mãos invadiram o peito, sentiu as garras ferirem-lhe os mamilos. Um segundo de espanto bastou para responder: tomou a força que a fera lhe reconhecia, fez-se alto e atirou-o contra a parede. Imobilizou-o. Sem pensar, pôs-lhe a mão nas calças. Ouviu um gemido envolvido num trovão. As pernas da fera entrelaçavam-se nas suas. Mas não consentiu a submissão. Descendo-o, abrindo as calças, obrigou-o a encarar o sexo. A fera assustou-se; não o esperava tão rápido. Gritou um «espera», mas logo se arrependeu. Ganhou coragem, salivou guloso. É agora, pensou.

Agora a chuva descia torrencial, o vento soprava contra os vidros. Pelo buraco ouviam-se os gritos do massacre. As luzes da torre brilhavam como nunca, e as nuvens por cima enegreciam de cólera e ele enrubescia de excitação. Tirara as calças, masturbava-se enquanto se digladiava com o sexo que o confrontava junto à face. De cócoras, agarrava-lhe o tronco das coxas, subia as mãos até aos glúteos, tensos, acariciava-lhe a pele macia do ventre. Tocava suavemente o ponto que sabia conceder-lhe um prazer proibido  O colosso vibrava com a labuta, e dominava firme a encenação. Ao sentir um espasmo percorrer o fundo das costas titânicas, a fera parou. Olhou para cima. De braços prostrados, apoiado na parede, ele arfava. Cansado, pedia uma pausa. Inaceitável, pensou. Dava o flanco ao inimigo. Aos seus postos: era a altura do contra-ataque.

Escapou por debaixo das pernas e num salto levantou-se. A mão preparava o sexo. Encostou-se ao parceiro. Despiu-lhe o casaco. Foi a vez dele: «espera!»; Shss, calma, e sentiu uma mão agarrar-lhe o pescoço, e com agilidade descer o peito e o abdómen até ao sexo, ainda por saciar.
A outra, mão esquerda, volta ao ponto antes tocado, aflorado, agora exercitado com delicada (dedicada) pressão e saliva. O colosso, novamente presa, olhava pela janela, mas o seu arfar embaciava o vidro. O único contacto com o mundo em perdição era o buraco estilhaçado. Com o olhar inconstante via a guerra de elementos que se travava lá fora, vento e chuva, céu e terra, Deus/Homem, dominação/subordinação.

Na centelha do instante, cai um raio sobre a Câmara; uma comoção de dor e prazer devora-lhe o ventre. Tenta resistir; aumenta o grito. Duas mãos agarram-lhe as coxas; uma escorrega para o sexo. Começa num arfar ritmado. Súbito, atingido por uma febre extasiante que lhe arranca gemidos prolongados em compasso rápido, resigna-se. Deixa-se levar. Aparta então mais as pernas. Arrisca, a medo, um olhar para trás: a besta fantástica agarra-lhe os quadris, trepa-lhe a espinha e manipula todos os seus movimentos com a mestria de um marionetista. Ao leme de uma grande nau, pensou, a tempestade era-lhe subserviente; e isso concedia um prazer extremo a que não estava habituado – a pose não lhe era costumeira, descondizia do seu estatuto de colosso. Fechou-se no embalo em que o conduziam as pernas da besta e, num suspiro abafado em gemidos, abençoou a sua submissão. Ao ouvi-lo, o marujo empolou-se, e esmerou a sua precisão de leopardo, rumo a bom porto. A presa expirou profundamente e num relance ainda conseguiu fisgar o mundo que se finava lá fora.

As rajadas de um vento diabólico arrancavam ramos de árvores enormes, figuras mais frágeis tombavam na rua e eram levadas pelos rios de água para o abismo da Avenida. Os prédios já muito deslavados pelas torrentes que se largavam dos céus ameaçavam ruir a qualquer instante. Mas a torre da Câmara resistia. Iluminada, apontava ao seu agressor. A base larga dava-lhe apoio firme, a praça soprava-lhe a respiração de pedra que a sustia. O último bastião de esperança da urbe resistia, resistia. Até ao final.

A chuva tornava-se intermitente, o vento soluçava em brisas. A tempestade afrouxava agora. Um último raio travou a meio o seu ataque, e recuou às cegas, desertor. Sobre a torre dissipava-se o tumulto. A luz lunar furava entre os farrapos das nuvens. A noite séria impunha-se sobre a cidade, numa colcha que cobria toda a devastação.

10.6.11

Discurso ao país


(não se confunda este com um daqueles apelos gratuitos à fuga desesperada do país, e aos problemas.)

5.6.11

他 I can't talk right now. I'm about to do a bad thing.
eu: oh! o quê??
他 I'll tell you tomorrow.
eu: mas mas, porquê? vê lá, tem cuidado!
他 Don't worry, I'll be fine.. It's just that it's my first time..
eu: erhm, ok, tu lá sabes. mas
...
他 Ok, I'll tell you: I'm smoking pot!

( xD que coisinha adorável! )

30.5.11

my first gay crush

You were a young, impressionable gay kid...
You most likely loved watching TV, listening to music, or seeing movies...
You had a secret, and your heart fluttered like crazy over your first gay 
crush!


myfirstgaycrush.blogspot.com

24.5.11

Vou votar amanhã

mas, na indecisão, só me apetece dançar!



(*os cidadãos nacionais deslocados no estrangeiro votam duas semanas mais cedo).

10.5.11

artigos 20º, 21º, 22º, 24º, 29º, 32º, 36º, 37º, 43º, 44º, entre outros, da Constituição do Uganda

art. 36º - Protection of rights of minorities.
Minorities have a right to participate in decision-making processes, and their views and interests shall be taken into account in the making of national plans and programmes.

art. 32º - Affirmative action in favour of marginalised groups.
Notwithstanding anything in this Constitution, the State shall take affirmative action in favour of groups marginalised on the basis of gender, age, disability or any other reason created by history, tradition or custom, for the purpose of redressing imbalances which exist against them.

art. 22º - Protection of right to life.
(1) No person shall be deprived of life intentionally except in execution of a sentence passed in a fair trial by a court of competent jurisdiction in respect of a criminal offence under the laws of Uganda and the conviction and sentence have been confirmed by the highest appellate court.

art. 43º - General limitation on fundamental and other human rights and freedoms.
(1) In the enjoyment of the rights and freedoms prescribed in this Chapter, no person shall prejudice the fundamental or other human rights and freedoms of others or the public interest.

(2) Public interest under this article shall not permiT -
(a) political persecution;
(b) detention without trial;
(c) any limitation of the enjoyment of the rights and freedoms prescribed by this Chapter beyond what is acceptable and demonstrably justifiable in a free and democratic society, or what is provided in this Constitution.


*

All Eyes on Uganda

Não existe pecado do lado de baixo do Equador


Brasil: «A decisão tomada por votação unânime dos juízes do Supremo Tribunal Federal (dez votos a favor e nenhum contra e um juiz a declarar incapacidade de voto) reconhece aos casais gay o direito a pensão de alimentos, direito a herança do companheiro em caso de morte, direito a ser incluído em seguros de saúde como familiar, direito à adopção e ao registo dos filhos do parceiro bem como às técnicas de procriação medicamente assistida como casal.»

*Ney Matogrosso