A mim o que me impressionou negativamente nem foi o facto de ter promulgado o casamento, apesar de ser um casamento com o qual eu não concordo e que entendo como união. Fiquei, sim, muito admirado com a produção cultural insuficiente da argumentação usada: dizer que não veta por causa da situação crítica que estamos a atravessar? Mas há aqui alguma relação de causa e efeito? Vetar daria origem a manifestações gigantescas, descontentamento? Se ainda há dias houve uma manifestação espectacular, como todas as da CGTP, e Lisboa foi invadida por pessoas de todo o país, que quiseram protestar por estarem em causa o pão, os salários... Assumiram a defesa dos seus direitos... E houve alguma escaramuça? Qual mal-estar? Felizmente já demos vários passos na democracia!
O que é certo é que mesmo sendo vetada, a lei voltaria ao Parlamento e...
[Interrompe] Por isso mesmo! Ele sabia que o próprio ciclo da legalidade seria suficientemente rápido e teria um determinado efeito. Por isso, para que é que vem com uma explicação que é perfeitamente inadequada, inconveniente, injustificada e incoerente? A sério que não vejo como é que uma situação crítica do ponto de vista económico-financeiro pode ser agravada com a legalização de um homem casar com um homem ou de uma mulher com uma mulher.
O que é certo é que mesmo sendo vetada, a lei voltaria ao Parlamento e...
[Interrompe] Por isso mesmo! Ele sabia que o próprio ciclo da legalidade seria suficientemente rápido e teria um determinado efeito. Por isso, para que é que vem com uma explicação que é perfeitamente inadequada, inconveniente, injustificada e incoerente? A sério que não vejo como é que uma situação crítica do ponto de vista económico-financeiro pode ser agravada com a legalização de um homem casar com um homem ou de uma mulher com uma mulher.
Começamos da melhor forma. Os bispos já perceberam que o nosso Presidente não perde muitos fios de cabelo a reflectir sobre as questões do nosso tempo. Cavaco estuda o quotidiano sócio-político com muito cuidado, sente a pulsão da comunicação social, descarta a opinião publicada mas interioriza com a mais devota atenção os sintomas de uma quase divina opinião pública. Ele sabe quem o apoia; sabe, sobretudo, traçar o perfil psicológico, cultural e social do seu típico apoiante. Sabe o que deve ou não dizer, de que assuntos essa abstracta figura gosta de ouvir falar, e que papel deve um estadista ter.
No fundo, Cavaco não faz política, pelo menos não no sentido mais "nobre" do termo; joga, sim, com as convenções, com sensibilidades e preconceitos. E tudo isto serve com aquela postura de político responsável que se eleva acima dos fait-divers lamacentos da política do dia-a-dia. Mas é apenas a postura, a fachada, não o pensamento ou a acção política.
No fundo, Cavaco não faz política, pelo menos não no sentido mais "nobre" do termo; joga, sim, com as convenções, com sensibilidades e preconceitos. E tudo isto serve com aquela postura de político responsável que se eleva acima dos fait-divers lamacentos da política do dia-a-dia. Mas é apenas a postura, a fachada, não o pensamento ou a acção política.
Sobre o casamento gay, é lamentável forma como o Presidente tenta subvalorizar uma questão e um debate que tanta importância tem para os dois grupos que disputam o antagonismo neste debate: a igreja e a comunidade LGBT; fica apenas o sentimento comum de que Cavaco Silva não acha grande piada a que o país perca tempo com estes assuntos corriqueiros e fúteis.
Sem comentários:
Enviar um comentário