3.7.10

Do Amor


O Making Love (1982) é sem dúvida um dos grandes clássicos do cinema queer americano. É uma espécie de homenagem gay ao filme melodrama, tão popular nos anos 50 (e, particularmente, entre a comunidade gay*). No vídeo em cima vemos trechos de An Affair to Remember e A Place in the Sun, dois expoentes máximos do género. Nem precisamos de nos afastar dos tão típicos subúrbios encantados (aparentemente, pelo menos), ou do tranquilo way of life dos Estados Unidos no pós guerra; tudo isto faz parte do cenário desta história de coming out tardia na suburbana Los Angeles dos anos 80.

(Aviso: spoiler)

Apesar do filme se propor a contar a história de um triângulo amoroso, na verdade a tensão emocional nunca abandona o casal feliz e jovem que são Zack e Claire. Bart, o outro vértice do triângulo, surge apenas como o catalisador do inevitável fim desse casamento insustentável - e assim tem de ser: é a própria natureza de Bart que determina o seu papel acessório, de descoberta e de mudança; efémero, portanto.

Ao contrário da maior parte dos filmes queer dos 80s e das décadas anteriores, temos um final feliz para o personagem LGBT. Ainda assim, as coisas não acabam bem; se a "vítima" do sistema era invariavelmente o gay, ou a lésbica, aqui a espada pende sobre a cabeça de outra alma desafortunada: a mulher, protagonista de um casamento quase perfeito. É ela, e não ele, que, ainda perdidamente apaixonada no último frame do filme, colhe a nossa compaixão. A questão centra-se agora em fazer a ponte entre os "oprimidos" e as vítimas indirectas do sistema - vítimas, claro, de uma sociedade que compromete moralmente os afectos a um paradigma discriminatório.

Por isto e por ter sido um dos primeiros filmes do género produzidos por uma major de Hollywood, é uma obra de um enorme vanguardismo - sem dúvida um dos clássicos do "nosso" cinema.

*Todd Haynes homenageia este género no seu Far from Heaven (2002)

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