Levar um amigo, rapaz, giro e totalmente hetero, a uma discoteca gay é uma experiência fascinante e muito divertida. Há muitas manias no público gay (pelo menos os rapazes hetero não costumam seguir) que os tornam desinteressantes. Desinteressantes para mim, sim; mas também para eles próprios. É o não 'faças aquilo que eu faço, faz aquilo que torna parecido com um homem hetero'... Go figure!
Entro eu, o rapaz e a namorada, dois dos meus mais queridos amigos. Ela, em êxtase com o ambiente (que desconhecia), despreocupada, deixa-o indefeso aos olhares furtivos das feras. Eu ajudo-o no que posso, agarro-o e abraço-o mostrando aos outros que a "presa" já tem dono. Mas adianta pouco. Passado uns minutos está ele encostado à parede, a rezar para que a noite passe depressa e para que saia de lá sem danos de maior (isto diz-lhe a cabeça dele, infestada com alguns preconceitos é verdade, mas que a situação na altura recomendava que ouvisse, para sua segurança). Foi uma noite marcante. Aprendemos todos um pouco: eu a ter mais cuidado quando levar lá amigos rapazes; ele a nunca mais aparecer lá sem se "arranjar" convenientemente para ir sair à noite G. Convenientemente passo a explicar.
O miúdo é bem parecido, sim, mas não é propriamente a capa de um catálogo de moda. Então? Muito simples: a forma de estar, de parecer, a postura marcadamente não queer (involuntária para ele, claro) tornavam-no único entre as centenas de pessoas que estavam na discoteca naquela noite, todas muito parecidas, em estilo, postura e, convenhamos, aspecto. Único e desejado, qual cordeirinho entre os leões.
Já explorei isto comigo próprio algumas vezes. Tendo em conta a dolorosa experiência do passado, o meu subconsciente já se habituou a dar instruções ao desejo (e a razão aconselha-me no mesmo sentido): não perder tempo com paixões ou paixonetas com rapazes heterossexuais. Não se ganha nada com isso. Não vale a pena se a alma for pequena ou a sexualidade incompatível.
No entanto, nada impede que me sinta atraído por um determinado protótipo de homem que reúne em si várias marcas não queer ou, se quiserem, hetero. E naturalmente não sou o único, como se viu naquela noite. Não é preconceito, é uma incoerência: a Comunidade deseja o homem hetero mas, individualmente, cultiva precisamente o oposto. Não falta num rapaz gay quando sai à noite a écharpe, a base, o risco, o penteado freak, a t-shirt da moda, ou a camisa muito justa.
Tenho a dizer que o tão proclamado bom gosto gay não se costuma reflectir na forma como os donos desse alegado "gosto" se apresentam (pelo menos quando esse "gosto" aprecia a imagem do homem hetero). É uma maquiavélica injustiça que o destino parece ter querido provocar sobre esta minoria. Um "gosto" que, claro, não aconselhou o meu amigo hetero quando este se arranjou para ir sair, quando não adivinhava ainda a minha proposta (logo acolhida com entusiasmo pela namorada) de naquela noite ir sair ao Zoom, quando nem ele nem ninguém - nem mesmo eu, confesso - suspeitava que ia acabar a noite violado por centenas de olhares indiscretos. Ele, um rapaz alto, de cabelo preto e curto, pólo escuro, calças de ganga, sapatilhas, fio de prata e levemente perfumado. Só.
Entro eu, o rapaz e a namorada, dois dos meus mais queridos amigos. Ela, em êxtase com o ambiente (que desconhecia), despreocupada, deixa-o indefeso aos olhares furtivos das feras. Eu ajudo-o no que posso, agarro-o e abraço-o mostrando aos outros que a "presa" já tem dono. Mas adianta pouco. Passado uns minutos está ele encostado à parede, a rezar para que a noite passe depressa e para que saia de lá sem danos de maior (isto diz-lhe a cabeça dele, infestada com alguns preconceitos é verdade, mas que a situação na altura recomendava que ouvisse, para sua segurança). Foi uma noite marcante. Aprendemos todos um pouco: eu a ter mais cuidado quando levar lá amigos rapazes; ele a nunca mais aparecer lá sem se "arranjar" convenientemente para ir sair à noite G. Convenientemente passo a explicar.
O miúdo é bem parecido, sim, mas não é propriamente a capa de um catálogo de moda. Então? Muito simples: a forma de estar, de parecer, a postura marcadamente não queer (involuntária para ele, claro) tornavam-no único entre as centenas de pessoas que estavam na discoteca naquela noite, todas muito parecidas, em estilo, postura e, convenhamos, aspecto. Único e desejado, qual cordeirinho entre os leões.
Já explorei isto comigo próprio algumas vezes. Tendo em conta a dolorosa experiência do passado, o meu subconsciente já se habituou a dar instruções ao desejo (e a razão aconselha-me no mesmo sentido): não perder tempo com paixões ou paixonetas com rapazes heterossexuais. Não se ganha nada com isso. Não vale a pena se a alma for pequena ou a sexualidade incompatível.
No entanto, nada impede que me sinta atraído por um determinado protótipo de homem que reúne em si várias marcas não queer ou, se quiserem, hetero. E naturalmente não sou o único, como se viu naquela noite. Não é preconceito, é uma incoerência: a Comunidade deseja o homem hetero mas, individualmente, cultiva precisamente o oposto. Não falta num rapaz gay quando sai à noite a écharpe, a base, o risco, o penteado freak, a t-shirt da moda, ou a camisa muito justa.
Tenho a dizer que o tão proclamado bom gosto gay não se costuma reflectir na forma como os donos desse alegado "gosto" se apresentam (pelo menos quando esse "gosto" aprecia a imagem do homem hetero). É uma maquiavélica injustiça que o destino parece ter querido provocar sobre esta minoria. Um "gosto" que, claro, não aconselhou o meu amigo hetero quando este se arranjou para ir sair, quando não adivinhava ainda a minha proposta (logo acolhida com entusiasmo pela namorada) de naquela noite ir sair ao Zoom, quando nem ele nem ninguém - nem mesmo eu, confesso - suspeitava que ia acabar a noite violado por centenas de olhares indiscretos. Ele, um rapaz alto, de cabelo preto e curto, pólo escuro, calças de ganga, sapatilhas, fio de prata e levemente perfumado. Só.
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